terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Sophia de Mello Breyner - Lagos

No âmbito dos trabalhos realizados anteriormente, nos quais nos focamos na nossa cidade de Lagos, selecionamos este poema devido ao facto de Sophia de Mello Breyner, enquanto poetisa de renome, manter uma relação próxima com Lagos. Dos textos que encontramos, consideramos este o mais elucidativo, visto que retrata a sua beleza natural numa perspetiva artística e acessível.

LAGOS II 
I

Lagos onde reinventei o mundo num verão ido
Lagos onde encontrei
Uma nova forma do visível sem memória
Clara como a cal concreta como a cal
Lagos onde aprendi a viver rente
Ao instante mais nitido e recente

Lagos que digo como passado agora
Como verão ido absurdamente ausente
Quase estranho a mim e nunca tido


II

Foi um pais que eu encontrei de frente
Desde sempre esperado e prometido
O puro dom de ter nascido
E o sol reinava em Lagos transparente


III

Lagos lição de lucidez e liso
Onde estar vivo se torna mais completo
— Como pode meu ser ser distraído
De sua luz de prumo e de projecto?


IV

Ou poderemos Abril ter perdido
O dia inicial inteiro e Iimpo
Que habitou nosso tempo mais concreto?
Será que vamos paralelamente
Relembrar e chorar como um verão ido
O país linear e transparente

E sua luz de prumo e de projecto?

1975

In O Nome das Coisas, 1977

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